Convoco uma reunião além túmulo e chamo o Sr. Houassis e Sr. Aurélio para uma reinvidicação urgente: no vocábulo aparelho, mas especificamente, aparelho ortodontico, deveria ser acrescentada a definição: "instrumento de tortura contemporânea". Mais eficaz que o saco, mais angustiante que a milenar técnica da gotinha de água pingando na testa, o aparelho vai além da tortura física: ele é um destruidor de sonhos. Você, que assim como eu, achava que tudo seria perfeito quando se pudesse viver só à base de chadelle, pudinzinhos de chocolate e afins, terá uma descepção quase mortal. Não aguento mais comer como desdentado, sem mastigar. Eu olho pra um cassetinho (pão francês pros estrangeiros) e sinto, além da revolta nada silenciosa do meu estômago, um aperto no coração. Sabe, aquela relação intima com a comida. Sem contar que aparelho te deixa com uma cara de pré-adolescente entrando na puberdade. Mas o mais engraçado é a compaixão alheia que o aparelho desperta:

E ele tem borrachinhas azuis.